Amar
e respeitar até que a morte os separe. É o que prometem os noivos,
apaixonados, na hora de dizer o "sim" diante do altar. Mas e quando a
relação não dá certo? O que nem todo mundo sabe é que há a possibilidade
de cancelar a união religiosa para que ela seja eterna apenas enquanto
dure e para que os pombinhos tenham uma nova chance de prometer amor
incondicional diante dos padres. E dados da Igreja Católica mostram que
cresce o número de pessoas que buscam cancelar a cerimônia religiosa em
Belo Horizonte e na região metropolitana.
Só
em 2011, a Igreja registrou 200 pedidos de nulidade do casamento - uma
média de um processo a cada dois dias. No ano anterior, foram 150
solicitações. Mas mesmo com o crescimento, para que a cerimônia seja
cancelada, é preciso atender a diversos critérios.
O
processo para comprovar que o casamento fracassou leva cerca de oito
meses, mas há casos de pessoas que aguardaram quase dois anos.
"Não
adianta a pessoa falar que o amor acabou, que se cansou do companheiro
ou que o casal tem incompatibilidade de gênios, isso é esdrúxulo",
afirmou o presidente do Tribunal Eclesiástico de 1ª Instância da
Arquidiocese de Belo Horizonte, padre Mário Sérgio Bittencourt. Segundo
ele, cerca de 80% dos pedidos de nulidade de casamento que chegam ao
departamento são concedidos.
Um
dos critérios que mais pesam na hora da análise do pedido de nulidade
são as características que não eram de conhecimento de um dos parceiros
quando aceitaram a união, o chamado "defeito de origem". Os mais comuns
são alcoolismo, doenças mentais ou transmissíveis, homossexualidade,
impotência sexual e adultério.
Casada
pela segunda vez, a dentista Dariany Fernanda não imaginava que seu
namoro de 16 anos fosse resultar em um casamento sem filhos. Após a
celebração, não demorou muito tempo para que ela percebesse que seu
marido não era bem o que ela imaginava. "Ele não queria ter filhos,
arrumou uma amante e a gente nem dormia mais junto", contou. Desiludida,
ela entrou com um pedido de nulidade do casamento, alegando que queria
virar freira. Dois anos depois, ela conseguiu cancelar a união, mas, em
vez de seguir para um convento, acabou se casando novamente.
De
acordo com o padre Bittencourt, a maior parte das pessoas que cancelam o
casamento o faz para entrar em nova relação e realizar uma outra
cerimônia religiosa. "Quando as pessoas nos procuram é, geralmente,
porque elas têm essa motivação mais forte", disse.
JulgamentoRoma. Não
é necessário contratar um advogado para entrar com o pedido de nulidade
no Tribunal Eclesiástico. Caso a solicitação seja negada, do processo
cabe recurso, que pode chegar até a 3ª instância, no Vaticano.
Uniões mais desfeitas são as de 5 a 10 anos e dos mais pobres
Pessoas
de classes mais baixas e em casamentos com duração entre cinco e dez
anos são as que mais buscam a anulação da cerimônia religiosa. Segundo o
professor de direito canônico padre Lindomar Rocha, da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), os mais humildes têm
"mais compromisso com a vida sacramental" e, por isso, têm a preocupação
de anular a união.
"Quem
rompe o matrimônio e contrai novas núpcias (sem nulidade da união
anterior) não pode participar da eucaristia, ser madrinha ou padrinho
nem participar de crisma", explicou o professor.
Duração.
O presidente do Tribunal Eclesiástico de 1ª Instância da Arquidiocese
de Belo Horizonte, padre Mário Sérgio Bittencourt, afirma que é raro
casamentos de curta duração ou que duraram muito tempo serem cancelados.
"Anteontem, recebi um pedido de um casamento que durou quatro meses.
Outro dia, de um que durou 27 anos. Mas eles são mais incomuns. A média é
de cinco a dez anos", disse. (RRo)
Família
Filhos não impedem fim da relação
Para
a Igreja Católica, uma das principais motivações do casamento é a
geração de filhos, mas mesmo casais com crianças podem conseguir a
nulidade da cerimônia. Foi o que aconteceu na família da pedagoga
Mariana (nome fictício), 68.
Seu
neto, hoje com 20 anos, é fruto de um casamento que foi realizado por
causa de uma gravidez e depois cancelado. A avó foi uma das que deram
apoio para a união e, tempos depois, para a nulidade dela. "Os dois nem
deveriam ter casado, eles eram muito novos e despreparados", contou
Mariana.
Discrição.
Quem também anulou o casamento foi o advogado Fabrício Leopoldino, 46.
Quatro anos depois da concretização, ele se casou novamente e, hoje, diz
que já ajudou outras pessoas a fazerem o mesmo. "É tudo feito com
discrição", afirmou. (RRo)
Fonte: Jornal O Tempo
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